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“Rolezinhos” em shopping centers08.04.15

A compreensão dos “rolezinhos” em shopping centers traz à tona várias questões. A primeira delas refere-se ao avanço das comunicações e do crescimento das mídias virtuais e interativas como o facebook, twitter, whatsApp dentre outras e a sua magia no envolvimento das pessoas. Faz parte da natureza humana no topo da pirâmide das necessidades, o reconhecimento social, a estima e consideração do outro. O que antes era difícil de conseguir, por criatividade, mérito, muito empenho e determinação, levando o indivíduo a tão almejada fama, passou a ser facilmente alcançado nas redes sociais onde, por uma estratégia ou sorte, algumas pessoas passam a liderar grupos e conseguem um grande número de seguidores que consumidores eles se identificam. São os chamados “ famosinhos”. Logicamente, que toda esta comunicação e encontros Vidrosrtuais, não podem prescindir de encontros presenciais.

O segundo aspecto que se apresenta, então, é o fato de que para estes jovens que nasceram na década de 1980 em diante, muitos fazendo parte desta nova classe média ascendente, o Shopping Center é a sua grande referência de espaço “público”. Embora muitos intelectuais apontem o shopping centers como o “não lugar”, para estes jovens os Shopping Centers são o seu “lugar”, como o foram o footing das pracinhas nas cidades do interior, ou a rua Augusta na década de 1970 em São Paulo, por exemplo.

Para os Shopping Centers, que sempre buscam novas atrações para atrair mais consumidores, “rolezinhos” com cerca de 50 pessoas adentrando o Shopping de modo pacífico, com certeza, serão sempre benvindos, pois são consumidores em potencial. Noentanto, quando a quantidade de pessoas começa a significar aglomeração e multidão, faz surgir outro aspecto importante desta manifestação.

A multidão, até recentemente, quando não havia câmeras e telefones celulares, garantia o anonimato dando aos indivíduos a possibilidade de realizar atividades e ações socialmente não toleradas, liberando-os dos freios sociais, sem o perigo da identificação. Esta possibilidade de identificação pode explicar o uso das máscaras pelos grupos de black.blocs. No entanto, o controle social, a garantia da civilidade, a vida em sociedade, exige o cumprimento de regras de conduta e de convívio, assim como das leis estabelecidas e a punição daqueles que não as respeitam. Se a segurança e a justiça oferecidas pelo Estado não conseguem dar conta da manutenção da ordem social, os Shopping Centers, como propriedade privada de uso público, se veem no direito de fechar as suas portas para proteger a sua propriedade, seus consumidores e seus empregados.

Embora alguns Shopping Centers dificultem o acesso a pé de usuários e inibam, pela sofisticação da sua arquitetura, a entrada de determinados indivíduos, não há um controle formal ostensivo do acesso, mas sim da forma e do comportamento observados e considerados inadequados. Aliás, o Jardim da Luz quando da sua criação também apresentava um controle do comportamento dos seus usuários. O código de Posturas Municipais de São Paulo, de 1886, era mesmo um código de normatização do comportamento individual. A história mostra que, cada sociedade, a cada momento, tem suas regras de conduta e suas formas de controle públicas ou privadas estabelecidas.

A situação de fato se complica com a transformação dos “rolezinhos”, inicialmente como encontro de grupos afins, em manifestações de multidões buscando extravasar as suas frustações de modo violento, escondendo-se no anonimato possível destas mesmas multidões, ou na sua impunidade. Neste sentido, as vitrinas são fundamentais para o efeito desejado por eles. Vidros quebrados provocam barulho e sensação degrande destruição, causando pânico e espetáculo. E, neste aspecto, os Shopping Centers servem brilhantemente à finalidade de tais ações, que os “rolezinhos” oportunizaram e a exposição na mídia ajuda a amplificar.